sábado, 16 de julho de 2011

do pedestrianismo e de alguns percursos...


leitor, se tem um grupo de amigos que apreciam a natureza e gostam de caminhar, acredite que o melhor desafio que lhes pode propor é uma levada... primeiro, terá de garantir o transporte até ao início do percurso pedestre e, se não quiser repeti-lo em sentido contrário, é imprescindível que tenha alguém para recolhê-los aquando da chegada. se não estiver interessado em alugar um carro, o melhor é dirigir-se a uma agência especializada em pedestrianismo... há várias e centrais, junto da sé. dir-lhe-ei, no entanto, que a madeira é uma ilha que, para ser aproveitada, exige que tenha um carro e, no mínimo, um bom e confortável par de botas de montanha... água abundante, protector solar, telemóvel com bateria, impermeável e algum agasalho, um mapa e uma bússola (não vá o diabo tecê-las e fazê-lo passar a noite ao relento!). não menos importante, é comunicar a alguém o percurso que vai fazer aquando do início e do final, não facilite...

sexta-feira, 15 de julho de 2011

das levadas...


a madeira é, definitivamente, o local para o viajante, se o entendermos como aquele que passa a maior parte do tempo nos caminhos. não creio que haja muita gente que discorde comigo, se disser que as melhores uias, para nos adentrarmos neste paraíso, são as levadas. conta-nos a história que, as primeiras, foram construídas no século XVI com a intenção de repartir a abundância das águas do norte pelos canaviais da costa sul e que, hoje, têm uma extensão superior a 1400 quilómetros! Imagine-se o leitor nos mais extenso jardim botânico: o isoplexis, o massaroco, a orquídea da serra, os gerânios, os ranúnculos, os goivos da serra, as estreleiras serão algumas das espécies, naturais e indígenas, que o maravilharão neste jardim. a faia, o loureiro, o folhadeiro (folhado) ou a urze-molar (betouro), encorpados, hão-de alevantar-se austeros, como soldados de terracota coloridos, nas suas poses naturais; oferecendo-se para o proteger da estiagem, enquanto se passeia pela floresta laurissilva (lat: laurus e silva - loureiro e floresta respectivamente). se for caminhante experimentado, saberá que precisará de água e alguma fruta para alimentar o esforço. o cansaço, deverá ignora-lo; render-se-á, também ele, à beleza da paisagem. fotografe-a sem pressa, mais não seja, ao modo de pessanha, fixando-a na retina dos seus olhos.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

da filosofia

desde que decidi dedicar um blogue ao pedestrianismo, comecei a interessar-me pelo conceito e esforço-me por entendê-lo como uma filosofia de vida. não será difícil defender-me: afinal, não é o caminhar entre gentes e terras uma forma de amor pela sabedoria? não é o caminhante esse ser que procura o conhecimento regressando a uma era pré-industrial, buscando o que de característico tem um lugar, a sua cultura mais ancestral, no meio da natureza?
meu caro leitor, esta é a forma de caminhar que promovo. a par deste processo de conhecimento exterior, acredito que adviremos conhecedores de nós próprios e aprenderemos a sentir-nos mais saudáveis neste contacto com a natureza. aprenderemos a divorciar-nos de todos os problemas quotidianos e, de uma forma económica, praticaremos uma actividade desportiva à nossa medida, ao nosso ritmo... onde somos nós o limite. seja bem-vindo.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

do nome


a minha intenção é fazer deste blogue um instrumento de partilha, sugerindo e ilustrando percursos que já fiz ou que farei doravante e, claro, expondo algumas palavras que me fazem invejidade desta singularidade linguística que já corre para a extinção. espero poder transmitir-vos a paixão com que me entrego a estes trilhos, pois não quero fazer deste blogue outro sítio mais desprestado. Alguns de vós, os mais atentos, aperceber-vos-eis que esta criação não é coisa nova. não é que me tome por um Cadilhe, menos ainda por um Ítalo Calvino que espicaça o seu leitor a cada linha e lhe exige toda a sua atenção. talvez me tenham inspirado cada um deles ou, melhor ainda, me tenham construído como escrevedor ao tê-los amado como paradigmas. já me acusaram de ser demasiado apaixonado, demasiadamente virado para as entranhas, mas é só desta forma que experimento o mundo, talvez seja mesmo anacrónico no sentir... lembrei-me de um Mr.Darcy e de um Nava, ao mesmo tempo, do ridículo da comparação... mas... somos tudo o que lemos, ouvimos e vemos... e eu já li, ouvi e vi muito do que de mim conheceis.
não vos maço muito mais, explicar-vos-ei apenas o nome deste sítio... gadanhos e gravetos... nesta terra diz-se dos dedos ou das mãos e dos ramos de plantas sem folhas... são palavras que não são estranhas a um transmontano, coincidindo ainda nalguns contextos que tenham como protagonista qualquer homem da terra. lembro-me de tempos idos e de ouvir gadanhas quando se cortava a erva e dos gravetos que se colhiam no sequeiro para acender o lume numa manhã mais fria... e se decidirmos brincar com as palavras... viram até avesso, se quisermos... quem, por falta de graveto, não deixou de viajar mais para além... e estou certo que, cada um de vós, encontrará outros tantos significados...
acabo com algo que escrevi a uma amiga, quando lhe justificava o nome deste blogue: «fiz uma pesquisa e achei que estas duas palavras dizem muito de muita coisa: de mim, da ilha, dos conterrâneos e dos forasteiros... dos viajantes e dos nómadas... em parcas palavras, dizem da gente e da terra!»

terça-feira, 12 de julho de 2011


Há alturas na vida em que decidimos algo, nem sempre porque faz sentido ou carece dele; simplesmente, decidimos... quando partimos, quando regressamos, quando re-partimos... e foi num desses momentos decisivos que escolhi a madeira para minha casa... as razões, essas, emergirão neste sítio... a fuego lento...
longe, nos antípodas, numa noite mais quente do que qualquer outra que se possa experimentar neste ocidente, quis escolher o local exacto para me enraizar - palavra cara a um transmontano de alma que, de nascimento, é basco. Sabia exactamente o que procurava: mar à vista e a montanha à mão... vira de longe a beleza das levadas, tal como ouvira da simpatia das gentes e sentira, à distância, que a minha nova terra - porque já tenho algumas e sinto-as todas minhas - havia de ser essa pérola que algum deus esquecera quando, há mil anos, para repousar no tórrido deserto africano, depois de um acto criativo, a pousara ali ao lado num cabeço rochoso que espreitava no oceano.